Espaço para a divulgação da arte e técnica de problemas de xadrez; sua evolução histórica; soluções de problemas e crônicas acidentais. Todos os direitos reservados. © Roberto Stelling

21 de novembro de 2007

ISC 2007 - 1ª categoria, parte 1

O ISC 2007 foi realizado na Associação Leopoldinense de Xadrez (a ALEX), no centro do Rio de Janeiro, no terceiro domingo de janeiro de 2007, às 8h da manhã. Eu, Marcos Roland e Leo Mano decidimos participar da primeira categoria do ISC 2007. Até então apenas o Roland já havia participado de uma competição internacional ao vivo, com ótimo resultado no Mundial de Rotterdam em 1991. De outra parte eu e Leonardo Mano só tínhamos participado de competições nacionais.
De fato eu já sabia que a minha experiência de quatro finais de campeonatos brasileiros não seria de nenhuma ajuda no ISC, não apenas o formato de competição é totalmente diferente como o nível de dificuldade dos problemas é muito maior.

Em 1984 participei da final do campeonato brasileiro como hours-concours e acertei os 8 mates em 2 em 46 minutos enquanto o campeão daquele ano acertou apenas 6 dos oito problemas em 60 minutos; em 1990 participei pela primeira vez de uma final competindo oficialmente e acertei os 4 diretos em 2, 2 inversos em 2 e 2 ajudados em 2 em 52 minutos; em 2002, depois de 12 anos de inatividade em competições, acertei 4 diretos em 2, 2 inversos em 2, um ajudado em 2 e não encontrei uma solução em outro ajudado em dois de duas soluções (aliás, este foi o único problema que não solucionei completamente em finais de brasileiro!), em 2006 acertei todos os problemas, 4 diretos em 2, 2 inversos em 2 e 2 ajudados em 2 em 58 minutos. Pelo visto minha performance não melhorou com o passar dos anos...

A final do campeonato brasileiro é composta de 8 problemas de dois lances para serem resolvidos em 1h, no ISC são duas seções de 2h cada uma com 6 problemas que incluem: 1 direto em 2, um direto em 3, um direto em mais de 3 lances, um estudo, um inverso e um ajudado em cada seção. Estudo, treinamento, simulações e estratégias de controle de tempo são totalmente diferentes nas duas competições!

Vejamos os problemas da primeira seção da primeira categoria:

C. Wiedenhoff, Urania 1980
Prêmio Especial
#2
Neste mate em 2 está claro que a chave deve ser feita com uma das duas torres porém a dificuldade é descobrir qual das duas torres devemos mover e qual a casa destino da torre.
Como o bispo preto de c1 está livre e não há um prejuízo claro no seu movimento (ou seja, se o bispo sair de c1 não há nenhum mate adicional) então o movimento da torre deve criar uma ameaça. Assim as duas opções viáveis são: 1. Tf7 e 1. Tg7. Como não há mate para 1. Tf7?? Rd5! então a chave deve ser 1. Tg7!, vejamos as variantes:
1. Tg7! (2. T:c7#) Ce6/Ca6/Cd7 2. Tc3#, 1. ... C:e8/Cf7 2. Tf6#.

V. Rudenko
Sächsische Zeitung, 1983
2° Prêmio e.E.
#3
Depois de um tempo de análise percebe-se que não há uma resposta adequada das brancas para o lance 1. ... b4 (ameaçando tanto 2. ... b:a3+ e 2. b:c3+). Assim a chave deve criar uma resposta para b4 ou então impedir este movimento. Depois de buscar e não encontrar formas satisfatórias para criar uma resposta a b4 concluí que é indispensável o bloqueio do peão com 1. Cb4 ou 1. Bb4. Como Cb4 não traz nenhuma ameaça a chave tem que ser 1. Bb4!, portanto a ameaça é 2. Cc2 seguido de 3. Td4# ou 3. Tc3#. Interessante que neste problema foi possível descobrir a chave antes mesmo de saber o estava sendo ameaçado!
Quais seriam as variantes ? (aqui só reproduzo as linhas temáticas principais) 1. ... Tc6 2. Cf5 c:b4 3. Cd6#, 1. ... Cac6 2. Cb3 c:b4 3. Ca5#, 1. ... Cec6 2. Cf3 c:b4 3. Ce5#,


J. Künzelmann
Sächsische Zeitung, 1984
1° Prêmio
#6
Este problema de Künzelmann é mais fácil do que pode parecer à primeira vista, é muito comum que problemas de mates em 5, 6 ou mais lances sejam mais fáceis que problemas de mate em 3 ou 4. Veja que há várias formas de ameaçar mate em um lance com Be2, Bd3 e Bc4, cada um destes movimentos força uma defesa das pretas que evita o mate mais curto, porém é importante perceber que vantagens as brancas podem obter com estas defesas ou que prejuízos as pretas tem ao serem forçadas a se defender da ameaça imediata. Pela mobilidade das pretas é essencial usar estas ameaças curtas para conseguir dar mate em 6 movimentos. Após investigar os tres movimentos de bispo pode-se encontrar a variante forçada: 1. Be2 Ch4 (agora o cavalo não pode ser usado para defender uma ameaça em e4 ou d5) 2. Bd3 f5 (agora a torre não tem a opção de defender d5 usando a quinta fila) 3. Bc4 Td6, após estes lances introdutórios vemos que a torre interferiu com o bispo preto de e7 então seguimos com: 4. Bb5+ a:b5 5. Cb4+ c:b4 6. T:c2#. Composições como esta são chamadas de "problemas lógicos" tanto pela forma de composição quanto pelo método de solução.

H. F. Moxon
British Chess Magazin, 1952
Brancas jogam e ganham
Este final gerou uma controvérsia interessante. A solução pretendida pelo autor não é a seqüência mais natural e pelo menos um solucionista encontrou uma forma alternativa de resolver o problema. Como não tinha ainda resolvido outros problemas acabei não dedicando muito tempo a este problema. Hoje em dia eu teria pelo menos anotado a variante principal da linha que tinha visto e certamente ganharia alguns pontos adicionais, o curioso é que a minha idéia era a mesmo do furo e não a da solução!

A solução do autor é: 1.Tg4 d3 2.Th4+ Rg1 3.Cxd3 Cxd3 4.Td4 Cf4+ 5.Rg4 Bf8 6.Rxf4 Bxh6+ 7.Rf3 Bf8 8.Rg3 Rf1 9.Tf3+ e ganham.

Porém é possível ganhar também com: 1.Rg4 d3 2.Cd5 d2 3.Ce3 e agora as pretas podem escolher entre 3. ...Cd7, 3. ...Ce4 ou 3. ...Cd3, as variantes são complexas mas as brancas possuem formas de ganhar em todos os casos!


K. Ewald, Die Schwalbe, 1996
H#3, 2 Soluções
Este ajudado em 3 é mais difícil que parece à primeira vista porém dá para perceber que a semi-pregadura das peças brancas em d8 e c8 está relacionada a possíveis despregaduras efetuadas pelos bispos pretos de a2 e c5. A dificuldade está em montar os quadros de mate. Com o rei preto em d5 é possível dar mate com Cd7 se o bispo branco estiver em f6 e as casas e6 e c4 controladas, assim uma variante seria: 1.Bg8 exf5 2.Rd5 Bf6 3.Tc4 Ce7#. Um segundo quadro de mate seria com o cavalo branco em d6 e o bispo branco em b6, para isto é necessário controlar e5 e c3, assim a segunda solução seria 1.Cb5 f4 2.Bf8 Cd6 3.Cc3 Bb6#

L. Knotek, Lidove Noviny, 1925
2° e.E.
S#5
O último problema da primeira seção foi responsável por perda de pontos generalizade e teve a taxa mais baixa de acertos entre os solucionistas. Embora não seja difícil visualizar os quadros de mate (até porque está claro que as pretas precisam executar 1 movimento de rei para a sexta fila e quatro movimentos de peão, dando mate na sétima fila) porém pelo número de variantes e possibilidades é difícil identificar o lance inicial!

1.Bb4! exd5 2.Rd1 dxc4 3.Bc5+ Rc3 4.Rc1 cxd3 5.Bd1 d2#, se 1...e5 2.Bc5+ Rc3 3.Rd1 e4 4.Rc1 exd3 5.Bd1 d2#, se 1...exf5 2.Ch5 f4 3.Dg7+ Rxe3 4.Td1 f3 5.Bf1 f2# e finalmente se 1...Rxe3 2.Bc3 e5 3.Tf1 e4 4.Be5 exd3 5.Bd1

Por enquanto é só, mais tarde veremos a segunda parte da categoria 1!

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