Espaço para a divulgação da arte e técnica de problemas de xadrez; sua evolução histórica; soluções de problemas e crônicas acidentais. Todos os direitos reservados. © Roberto Stelling

12 de março de 2006

Gênese

O ano de 1845, quando a composição do tema índio de Henry A. Loveday foi publicada na revista "Chess Player's Chronicle" de Howard Staunton (1810-1874), marca o início da era onde problemas de xadrez começaram a tomar a forma moderna. As definições e idéias daquela época se consolidaram no dercorrer do século XIX e início do XX com a escola clássica.
Os preceitos eram simples: as posições tinham que ser econômicas (se uma peça não participa do problema e não é essencial para a solução ou para evitar uma solução alternativa então não deve estar no tabuleiro!), as variantes tinham que ser únicas e sem duais e os compositores começavam a explorar elementos dinâmicos entre as peças como interferências, bloqueios, pregaduras, aberturas de linha, remoção (clearance) e semi-pregaduras.
A nomenclatura de temas também começa a se firmar nesta época. Em 1846, um ano após a publicação do seu primeiro problema, Henry A. Loveday envia outra composição, agora correta, ilustrando o tema índio para o Chess Player's Chronicle:

H. A. Loveday
Chess Player's Chronicle, 1846

#3

A solução, simples para quem viu o problema anterior de Loveday, executa o tema índio com o bispo interferindo com a torre, exatamente o contrário da sua primeira composição.

1. Td1! (lance crítico) g4 (único)
2. Bd2 (interfere com a Torre e descrava o Bispo preto) B~ (a notação "~" em problemas funciona como abreviação de "qualquer casa")
3. Ba5#

Até a metade do século XIX os problemas eram pouco mais que quebra-cabeças requintados e quase sempre baseados em posições que teriam ocorrido ou que poderiam ter ocorrido em uma partida xadrez. Muitos dos autores de problemas, nesta fase de transição, eram também fortes jogadores de xadrez. O exemplo mais notável talvez seja o alemão Adolf Anderssen, um dos melhores jogadores de xadrez da sua época e vencedor das partidas Imortal e Perene (também chamada de sempre-verde ou sempre-viva). Anderssen foi declarado, de forma não oficial porque o título não existia na época, campeão mundial após a sua vitória no Torneio de Londres em 1851. Em 1866 Adolf Anderssen perdeu para Steinitz o match que definiria o primeiro campeão mundial oficial; o placar de 6 vitórias e 8 derrotas dá idéia da força do equilíbrio do match, até porque a décima seguinda partida ainda apontava um empate em 6 a 6!
Anderssen foi um dos compositores da escola antiga e seus problemas ainda não mostram idéias e mecanismos que iriam permear as composições de mates diretos pelos próximos 150 anos.


Adolf Anderssen
Aufgaben für Schach, 1842

#4

Aqui é fácil perceber que o mate vai ser executado com o Rei preto em c3; a Torre branca deve dar mate em a3 e é necessário que o Bispo crave o peão de b4 (ou então o capture e domine b4 mas não há tempo para isto em 4 lances). Para resolver o problema então é necessário que:
a) O Bispo vá a b6 e a5
b) A torre tenha acesso a a3


1. Bb6+! (a) Rb3
2. Ta1 (b) c2
3. Ba5 (a) Rc3
4. Ta3#

O problema a seguir de Anderssen mostra uma estratégia já próxima dos problemas modernos mas ainda incipiente. A mesma estrutura de mate aparece em um problema posterior do francês Theodóre Herlin em 1845 mas com uma estratégia mais elaborada e que dá origem ao tema Herlin.

Adolf Anderssen
Aufgaben für Schach, 1842

#4

O Rei preto está afogado, o lance branco precisa ser com um dos Bispos mas dá para perceber que não se pode dar acesso ao Rei preto às casas g6 ou g5, porque assim ele escaparia da rede de mate. Portanto o único lance que desafoga o Rei e não dá acesso a estas casas é:

1. Bh5! Rxh5
2. Rg7 h6
3. Rf6 Rh4
4. Rg6#

Anderssen ainda compôs outros problemas, que veremos mais tarde, mas não fez a transição completa para a escola de composição que começava a surgir. Os anos seguintes foram marcados por novos autores e idéias que foram classificadas como "temas", como o tema índio de Loveday, e novos autores competiam em torneios de composição para encontrar o equilíbrio entre economia, beleza, engenhosidade e originalidade.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home