Espaço para a divulgação da arte e técnica de problemas de xadrez; sua evolução histórica; soluções de problemas e crônicas acidentais. Todos os direitos reservados. © Roberto Stelling

10 de março de 2006

A solução de um problema

Terminamos o texto sobre o tema índio com o problema abaixo porém não mostramos a sua solução:

Viktor Melnichenko & Nikolai Rezvov
Torneio Jubileu 60 anos de Tim Krabbé, 2003
Terceira Menção Honrosa

Brancas jogam e dão mate em 4

Como resolver este problema? A solução de uma composição de xadrez (seja ela final, direto, inverso, ajudado ou mesmo um problema heterodoxo) é às vezes um mistério para jogadores iniciantes.
Porém a solução de problemas pode ser sitematizada, estudada e treinada. A facilidade para resolver problemas não é apenas uma questão de talento e sim uma habilidade que pode ser desenvolvida e aperfeiçoada.
Vejamos, de uma forma didática, o processo que passei para resolver o problema acima.

É fácil perceber a falta de movimentos das pretas: apenas o peão de g4 pode mover-se e mesmo para ele não há muitos tempos disponíveis.
Se fosse possível fazer com que o cavalo preto de d2 se movimentasse (por exemplo, tirando a torre branca de e2 da segunda fila) seria possível dar mate com Tc1, se o cavalo fosse para c4, e4, b1 e f1 ou com Db1, se o cavalo capturar o peão de b3; Tc1 seria mate também para Cf3 se o rei branco não estivesse em g1. Assim, nos próximos 3 movimentos as brancas tem os seguintes problemas para resolver:
(a) Retirar o rei de g1 (g2 e h1 são as únicas casas possíveis)
(b) Retirar a pregadura do cavalo de d2.

Se, na posição inicial, as pretas jogassem 1. ... gxh3 (como se as brancas não tivessem feito lance algum. Na terminologia de problemas isto se chama jogo aparente) o jogo seguiria com:
1. ... gxh3 2. Rh1 (a) h2 3. Te4 (b) Cf1(f3,xe4,c4,b1)/Cxb3 4. Tc1#/Db1#

Mas na posição inicial não há solução equivalente para 1. ... g3, assim a chave do problema (a chave de um problema direto é o lance inicial das brancas) deve, no mínimo criar uma variante para g3. A principal dificuldade de g3 é a ameaça gxf2+, o que ou evita que a torre de e2 saia da segunda fila a tempo ou força o rei branco a ir a f2 (lembre-se que precisamos mover o rei branco para g2 ou h1). A conclusão é que gxf2 precisa ser evitado. Como evitar gxf2 ? A forma mais natural é mover o peão branco de f2 para f3 ou f4!!

Como o lance 1. f4 interfere com o bispo branco de h6 é bem provável que a chave seja 1. f3.

Vejamos as variantes:
1. f3! gxh3 2. Rh1 (a) h2 3. Te4 (b) Cf1(f3,xe4,c4,b1)/Cxb3 4. Tc1#/Db1#

1. ... g3 2. Th2 gxh2+ (b) 3. Rh1 (a) Cf1(f3,xe4,c4,b1)/Cxb3 4. Tc1#/Db1#
2. ... g2 (b) 3. Rxg2 (a) Cf1(f3,xe4,c4,b1)/Cxb3 4. Tc1#/Db1#

1. ... gxf3 2. Rf2 fxe2 (b) 3. Rg2 (a) Cf1(f3,xe4,c4,b1)/Cxb3 4. Tc1#/Db1#

Perceba que em todas as variantes foi necessário resolver os ítens (a) e (b) acima, simples, não ? ;)

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