Espaço para a divulgação da arte e técnica de problemas de xadrez; sua evolução histórica; soluções de problemas e crônicas acidentais. Todos os direitos reservados. © Roberto Stelling

7 de março de 2006

O tema índio

Uma discussão recente do Orkut na comunidade O Xadrez me deu a idéia de criar um espaço para falar sobre problemas de xadrez, técnicas solução de problemas, composições, histórias e curiosidades.
A idéia é ter um local onde se possa expandir e aprofundar a discussão e os tópicos abordados sem as limitações naturais do Orkut. Ainda não tenho uma visão clara de como este espaço vai se desenvolver mas esta mensagem é um ponto de partida que dá a idéia de onde podemos chegar. Porém é essencial a participação dos leitores com seus comentários, críticas e idéias.
Mãos à obra!!
Como abertura do blog vamos falar um pouco da história de um tema bastante conhecido de problemistas e solucionistas mas que a maioria dos jogadores práticos desconhecem, o tema Índio.
O tema índio apareceu pela primeira vez em um problema composto pelo Reverendo Henry A. Loveday, em 1845 e publicado no periódico inglês "Chess Players Chronicle" na coluna de Howard Staunton. Como a composição fora enviada de Nova Delhi, na Índia, Staunton batizou a composição de "Problema Índio" quando a publicou. Mais tarde o mecanismo encontrado no problema passou a ser chamado, por este motivo, de "Tema Índio".
A versão original de Loveday seria considerada incorreta sob o ponto de vista moderno de composição de problemas mas há muitos anos o problema foi corrigido preservando a idéia do autor.

Henry A. Loveday
Chess Players Chronicle, 1845

Brancas jogam e dão mate em 3 lances.

A manobra era original na época e teve um grande impacto nos compositores de então. O problema de Loveday foi publicado à exastão em revistas e publicações especializadas se tornando um sucesso imediato entre compositores e jogadores de xadrez.

O tema índio é uma manobra de problemas em 3 lances (embora possa aparecer em problemas mais longos) onde uma peça se move além de uma casa crítica (d2 no caso do problema de Loveday) para que no lance seguinte outra peça de movimento distinto se mova para a casa crítica, criando uma auto-interferência. Esta auto-interferência tem o objetivo de evitar que o adversário fique afogado por falta de lances. O movimento seguinte é um cheque, em geral mate, executado pela bateria formada pelas peças que se interferiram no segundo lance.
A solução do problema de Loveday é:
1. Bc1! b4
2. Td2 Rf4
3. Td4#

O elemento surpresa do tema levou à criação de vários problemas com variantes desta mesma idéia. Um exemplo interessante é a composição a seguir de W. T. Pierce que apareceu no "English Chess Problems" em 1876.


Brancas jogam e dão mate em 3 lances.

Embora seja um problema de fácil solução e com apenas uma variante (como no problema de Loveday) o mecanismo "índio" é bastante agradável visualmente e ainda há uma pequena surpresa no quadro final de mate. Deixo para o leitor o prazer de resolver o problema.

A execução mais simples do tema índio pode ser encontrada no diagrama abaixo.

Francisto Fiocati, A Gazeta, 1932

Brancas jogam e dão mate em 3 lances.

No Brasil este problema é conhecido no meio problemístico como "o Fiocati" por alusão ao seu autor Francisco Fiocati (10.08.1894-17.02.1934) porém a mesma posição (ou refletida) foi composta de forma independente por pelo menos 3 outros autores, entre eles o grande compositor americano Otto Wurzburg (1875-1951).

Dentre as várias demonstrações recentes do tema índio a mais interessante, na minha opinião, é o problema abaixo dos compositores ucranianos Viktor Melnichenko & Nikolai Rezvov que tirou a Terceira Menção Honrosa no Torneio Jubileu 60 anos de Tim Krabbé cujo laudo foi publicado em 2003.


As brancas jogam e dão mate em 4.

Este é um problema difícil e extremamente sutil, vale a pena trabalhar as soluções cuidadosamente para entender porque cada lance é essencial e perceber os distintos mecanismos de descravação do cavalo das pretas.

Aguardo suas críticas, sugestões e comentários! Até a próxima!

5 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

O problemismo brasileiro acaba de ganhar um espaço de alta qualidade e belíssima apresentação! Aos poucos, essa lacuna do xadrez brasileiro está sendo preenchida com material humano e didático do melhor nível!
Parabéns!

8 de março de 2006 às 07:51

 
Anonymous Anônimo disse...

Parabéns pela iniciativa, Roberto. Com seu conhecimento de estudos e problemas esse blog tem tudo para ser uma referência nessa área. Já estou indicando aos amigos.
Vou separar aqui uns problemas que tenho de revistas estrangeiras.
abraços
Romario
romario.rj@uol.com.br

8 de março de 2006 às 09:29

 
Anonymous Anônimo disse...

Amigo sou leigo no assunto de xadrez, mais como pode ser movimento de brancas se rei esta em xeque?
teosan@zipmail.com.br

8 de março de 2006 às 09:35

 
Blogger Stelling disse...

Marcelo, conferi os problemas publicados. O rei preto não está em cheque em nenhum deles.
De qual problema você está falando ?

8 de março de 2006 às 10:02

 
Anonymous Anônimo disse...

Gostaria de parabenizar o sr. Roberto Stelling, pelo blog, e a respeito do problema, que dizer é fantástico!
anselmocostaesilva@yahoo.com.br

8 de março de 2006 às 10:04

 

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